segunda-feira, 4 de julho de 2011

Minhas 3 Mães

Padre José Fernandes de Oliveira, SCJ
Se tenho mãe? Tenho várias! A da terra, que já está no céu e chamava-se Dona Valdivina Messias, foi lavradora e costureira e morou em machado e Taubaté Tenho a do céu, que se chamava Maria, cuidava do lar e era de Nazaré da Galiléia e foi a mãe do Messias. E tenho a Igreja que ainda está na terra e a caminho do céu.  Quando falo em mãe, penso nas três, das quais Maria, evidentemente, é a mais santa. Não nasci do ventre de Maria, mas gosto de seu profundo colo espiritual. Nasci no ventre de Valdivina e cresci no colo da Igreja Católica.

Tenho enorme carinho por essas três mães.  Das três, só Maria não pecou. Minha mãe da terra era maravilhosa, mas tinha seus pequenos defeitos que não atrapalhavam em nada o seu amor por nós e nosso amor por ela. Nunca achamos que ela era a única mãe maravilhosa do bairro. Havia outras boas mães, que também amavam muito a seus filhos e os educavam muito bem.
Se eu trocaria de mãe? Não! Achava minha mãe maravilhosa, tinha muito orgulho dela e sabia dos seus valores que, de resto, toda a vizinhança elogiava e até hoje elogia. Tive mãe santa na terra e tenho mãe santa no céu. A mãe de Jesus, que era toda pura e esteve muito mais mergulhada no mistério do Cristo era melhor do que a minha mãe da terra. Minha mãe da terra sabia disso e falava com ela o tempo todo naquele terço já gasto de tanto que as duas conversavam.  .
Agora, porque tenho fé católica, creio que as duas estão juntas no céu, adorando a Deus. A diferença é que minha mãe pede pelo seu filho ao Filho dela e Maria pede ao Filho dela pelo filho da Dona Divina. O Filho de Maria é Filho com F maiúsculo e eu sou filho com f minúsculo. Jesus é mais Filho em tudo. A começar pelo Pai do céu de quem ele veio e se encarnou no ventre de Maria.  Digo que também sou Filho de Deus por causa dele. Ele é um com o Pai e eu mal consigo ser um comigo mesmo! Já me dividi não sei quantas vezes, não sabendo que direção tomar.  Não fosse Jesus e estas três mães, erraria bem mais do que já errei.
Se trocaria de Igreja? Não. Não acho minha igreja igual às outras, como não achava minha mãe igual às outras. Ela era especial além de ser minha mãe.  Havia algo a mais nela. Por isso a fui escolhendo, cada dia com mais intensidade. Fui compreendendo seus limites, deixei de idealizá-la e tomá-la por quem era: mulher feliz e boa mãe. Como só Deus é perfeito, parei de exigir perfeição dela. Já era suficientemente boa, sendo quem era.  Foi boa mãe para mim e para meus irmãos.
O fato de jamais me imaginar rompendo com ela e jamais trocando de mãe não me dava o direito de dizer que as outras não eram mães, nem eram boas. Eu nasci da minha mãe, criei-me no colo dela e à medida que amadurecia, escolhi ser cada dia mais filho dela.  Mas as outras mães também fizeram muito pelos seus filhos e eu os via felizes com ela.  Aprendi, pela boa educação que minha mãe me dera, a admirar e respeitar as mães dos outros, mesmo não aderindo a elas nem querendo o seu colo. Eu já tinha mãe.  Se não a amasse talvez caísse na tentação de buscar outra mãe. Não foi o meu caso. Sempre me dei bem com minha mãe.
Continuo católico, tenho meus limites de pessoa humana, não cheguei à perfeição e à santidade que se espera de alguém na minha idade, mas acho que posso dizer que creio em Deus e o amo, que creio em seu Filho Jesus Cristo, que creio que há um Espírito Santo, que de ambos vem e que, apesar dos meus pecados me ilumina. Creio nos santos que Deus fez e os admiro por terem conseguido o que até agora não consegui.  Ser totalmente disponível para Deus e para os outros.
Tenho três mães, duas no céu e uma na terra. Uma delas é Dona Divina que foi minha mãe aqui na terra, outra Maria que sendo mãe de Jesus a quem considero meu irmão maior, eu adotei por mãe. Finalmente há a Igreja aqui na terra, que é uma instituição que respeito e amo. Nem tudo na Igreja é como eu imagino que deveria ser, mas eu também não sou o católico que a Igreja gostaria que eu fosse, porque estou longe de ser o filho missionário que poderia e deveria ser.
Que fique claro quando alguém me perguntar sobre o meu ecumenismo. Sim, não pretendo e nunca diminui minha Igreja e achar que é uma igreja como outra qualquer. É mãe especial. Mas hão de me encontrar tratando bem e respeitando as pessoas de outras igrejas que ser consideram filhos de outra mãe.  Um dia aprenderemos a dialogar melhor sobre tudo isso. Naquele dia nenhum cristão se proclamará mais cristão do que o outro. Amaremos e deixarmos que Deus decida isso. Essa história de competir para ver quem arranja mais adeptos e de quem é ou será o maior no Reino dos Céus já foi respondida por Jesus aos fariseus do seu tempo e a dois dos seus discípulos e a todo grupo que o seguia.  Quem ainda discute sobre isso, não leu a resposta dele. Deveria voltar ler os evangelhos com mais atenção… É o que fazem os corações verdadeiramente ecumênicos e fraternos… Todos eles têm três mães!
FONTE: Pe. Zezinho, SCJ

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