domingo, 17 de fevereiro de 2013


Obrigado Bento XVI

Professor Felipe Aquino*
Quando ele foi eleito em abril de 2005, agradeci profundamente a Deus sua eleição, porque era uma vitória da Igreja, especialmente contra aqueles que, dentro da Igreja, não o amavam. O Espírito Santo deu a resposta a esses, mostrando a sua preferência. Sua eleição foi rápida e fulminante; não havia outro à altura de substituir João Paulo II, então teve ser ele mesmo, apesar dos seus 78 anos na época.
Com pesar, mas com profunda compreensão e amor, a Santa Igreja recebeu agora a notícia da renúncia de Bento XVI a partir do dia 28 de fevereiro. Deixando de lado as justas razões de sua decisão histórica, corajosa, coerente e fervorosa, gostaria de prestar um profundo agradecimento a este gigante que sempre serviu a Igreja, sem se servir dela para sua promoção pessoal. É um autêntico “humilde servo da vinha do Senhor”,  que o serviu desde  a primeira hora.
Obrigado Papa Bento pelos 25 anos como Prefeito da Congregação da Fé do Vaticano, braço direito do Beato João Paulo II. Ali o senhor enfrentou as heresias e os hereges de nosso tempo, afastando os lobos do Rebanho do Senhor, mesmo tendo de sofrer as críticas e ofensas desses hereges apoiados pela mídia secular.
Obrigado porque o senhor desmontou o perigo e a armadilha da chamada teologia da libertação marxista, que apela para Karl Marx em socorro de Jesus Cristo, como se  a força do Seu Evangelho não fosse suficiente para mover o mundo e precisasse pedir ajuda ao marxismo ateu, anticristão e materialista.
Obrigado porque na “Dominus Iesus” o senhor revelou a artimanha e os erros de um ecumenismo espúrio que mistura unidade na verdade com sincretismo religioso, falsa salvação e irenismo.
Obrigado Bento XVI porque mesmo já com 78 anos o senhor aceitou a missão hercúlea de ser o Vigário de Cristo, o “Doce Cristo na Terra”, como disse Santa Catarina de Sena, e cumpriu belamente esta missão até o limite de suas forças. Descansa velho guerreiro, sábio, douto e santo Papa.
Obrigado Papa Bento porque o senhor assumiu o papado com a fúria impiedosa dos inimigos da Igreja (de dentro e de fora) por causa de seu talento, do seu zelo apostólico e da sua fidelidade a Jesus Cristo.
Obrigado pois o senhor, na missa “Pró elegendo Pontifici” denunciou abertamente a “ditadura do relativismo”, a negação da existência da verdade. O senhor é um arauto e paladino da verdade que salva e que liberta; e que o mundo sem Deus não aceita. O senhor é odiado por isso, mas mesmo assim jamais se rendeu aos que querem impor a Igreja o uso da camisinha, o casamento de pessoas do mesmo sexo, o aborto, a eutanásia, a manipulação de embriões, e tantos outros males morais que destroem a família e civilização. Obrigado porque o senhor não teve medo de dar a cara para apanhar, em nome de Jesus Cristo, também esbofeteado por seus algozes.
Obrigado porque o senhor não se curvou diante de um feminismo barulhento e vazio, interno à Igreja, e de um modernismo que quis lhe impor a quebra do celibato sacerdotal, a aceitação da ordenação de mulheres e outras extravagâncias. O seu zelo e a sua coragem atraíram muitos fiéis para a Igreja e seu número cresceu a partir de 2011, bem como o número de sacerdotes e consagrados. Obrigado porque o senhor fez a Igreja entender que o mais importante é a qualidade dos católicos e não apenas o seu número.
Obrigado Santo Padre, porque no Ano Sacerdotal, quando o demônio investiu contra a Igreja e contra o Papa, acusando-o de ter acobertado a pedofilia, o senhor mostrou o quanto agiu para arrancar essa praga da Igreja.
Obrigado porque o senhor fez, como São Francisco,  a reconstrução da Santa Igreja, diante de um mundo muito mais imoral e difícil, sedento de destruir a Igreja. Certamente o novo Papa vai continuar este trabalho de enfrentar o secularismo, o ateísmo e o hedonismo.
Obrigado porque, tal como um novo São Bento de Núrcia, o senhor deu início ao reerguimento do Ocidente, como o Santo fez na época em que os bárbaros tudo dominaram. Hoje há uma barbárie ainda pior, que não saqueia as cidades e vilas, mas que mata as almas.
Obrigado Papa Bento, porque como Cristo, o senhor aceitou ser zombado pelos incrédulos, como na PUC de São Paulo, desrespeitado pelos inimigos da Igreja, maltratado pelos revoltados, que não respeitam seus cabelos brancos e sua velhice, e se esquecem que o senhor é o Representante de Cristo na Terra. O que fizeram com o Cristo, o fizeram com o senhor, mas a ressurreição virá no último dia. Sei que como o Senhor na cruz, o senhor orava por esses cegos, dominados pelo ódio infernal.
Obrigado porque o senhor ama a Igreja profundamente, e soube sabiamente interpretar o Vaticano II, defendendo-o dos ataques que recebeu tanto do lado ultraconservador, como do ultramoderno.
Obrigado Papa querido por toda a sua vasta cultura colocada a serviço do ministério petrino, “fazendo-se tudo para a todos salvar”. Obrigado pelas dezenas de livros maravilhosos que o senhor escreveu; especialmente pelas magistrais encíclicas “Deus caritas est”; “Spes Salvi”; e “Caritas in Veritate“.
Obrigado por tantas homilias, catequeses, visitas apostólicas, viagens internacionais, encíclicas, cartas, motu próprios, etc. para guiar o Rebanho do Senhor. Obrigado porque o senhor sempre nos falou de Deus com uma coragem profética. Obrigado porque o senhor sempre mostrou a importância da unidade da fé com razão, sempre defendeu a liberdade religiosa, chorou com os que choram e sorriu com os que se alegram.
Querido Pastor, alemão, unidos ao senhor queremos orar muito nesta Quaresma que começa, junto da Virgem Maria, Mãe da Igreja, para que Deus nos dê logo um novo Papa para continuar a missão da Santa Igreja, “Sacramento Universal da Salvação”. Queremos rezar Santo Padre para que o novo Papa seja um leão como o senhor, sem medo de enfrentar os erros e as heresias, sem medo de dizer as verdades; e que seja valente e destemido contra os ministros de Satanás, especialmente aqueles que se transvestem em “anjos de luz”, mas que são lobos cruéis prontos a devorar o Rebanho que custou o Sangue do Senhor (cf. At 20,28). Eles querem transformar a Igreja em  pregadora da imoralidade.
Como disse o “Apostolado São Clemente Romano”: “nos solidarizamos com o senhor e agradecemos, carinhosamente, pelo tempo em que nos deu força e coragem. Bravíssimo Papa, Santíssimo Homem de Deus, que Nossa Senhora o ajude. Respeitamos sua decisão e nos despedimos, com lágrimas nos olhos, da Primavera que o senhor fez brotar em nossos corações. Que Deus o abençoe, grande cruzado, Bento XVI!”.
“Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós” (Mt 5, 11-12).

*Prof. Felipe Aquino 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


                                               Torta doce de maçãs bichadas

Os catequistas têm, todos, o direito de ensinar. Todos têm o dever de opinar e, todos, o dever de corrigir ou aceitarem ser corrigidos. Defendi, uma vez, num artigo, o sacerdócio para mulheres. Dom Murilo Krieger, grande amigo de tantas horas, chamou-me a atenção, com o direito que tem um bispo de fazê-lo. Indicou-me o texto no qual João Paulo II pedia aos sacerdotes que deixassem este assunto para as autoridades. Imediatamente escrevi outro artigo pedindo desculpas à Igreja e dizendo que o Papa tinha mais direitos do que eu; eu voltava atrás em minha opinião. Quero pregar a Palavra de Deus e, por extensão, a da Igreja, mas não quero ensinar o que a Igreja não me autoriza a ensinar.
Dias atrás atendi uma jovem em crise de baixa estima porque não conseguira realizar seu sonho de ser santa. Não dava tudo a Jesus. Perguntei o que ela entendia por “tudo”. Nunca soube de um santo que dera tudo a Deus. É impossível pelas próprias forças doar-nos tanto.
Da sua conversa depreendi que estava impregnada do falso slogan: “Para Deus, ou tudo ou nada”!  Perguntei-lhe se diante de lauta e farta mesa com mais de 50 pratos, ela experimentaria todos e comeria de tudo, ou se, não podendo comer tudo e de tudo, não comeria nada... Riu-se. É claro que não experimentaria tudo, nem comeria tudo, mas comeria o que conseguisse digerir...
Lembrei-lhe que a comunhão em Cristo não é diferente. Não temos capacidade moral, ética ou mental para experimentar todas as místicas e correntes de espiritualidade que a Igreja nos oferece; mas não temos, também, o direito de dizer que não somos nada. Ninguém conseguirá dar tudo a Jesus, e isso não significa que não deu nada. Nem os pais dão tudo aos filhos, nem as crianças dão tudo aos pais.
Sugeri que trocasse o slogan que norteava e que é bonito como marketing da fé, mas não se sustenta, pelo conceito do máximo possível dentro do mínimo admissível. Com graduação em pedagogia, ela imediatamente entendeu minha proposta. Pediu licença e escreveu no seu celular para twittar depois: Pensamento do Padre Zezinho scj: __Tentarei viver o máximo possível, dentro do mínimo admissível... Não buscarei mais a mística do “ou tudo ou nada”, porque nunca serei capaz de dar tudo a Deus. Mas poderei dar o meu máximo, que nunca será tudo!
Brinquei, dizendo que a anotação passava de 170 toques. Disse, ela com um sorriso: __Pois é. Se nem num twitter eu consigo dar tudo e tenho que fazê-lo por etapas, menos ainda na vida. Ficarei santa de pouquinho em pouquinho.
Tomemos cuidado com propostas radicais. Francisco e Clara conseguiram chegar perto do tudo, mas, ainda assim, sofreram com seus limites. Nem Paulo, nem santo algum conseguiu dar tudo. Foram canonizados por terem chegado ao máximo possível. Não se contentaram com o nada, nem com o mínimo, mas traçaram a linha entre o mínimo tolerável e o máximo realizável. A frase de Paulo: “Posso tudo naquele que me dá forças”, está pontilhada desta psicologia. Estava dizendo que quem pode é Jesus.
Já vi crianças atravessarem a correnteza forte de um rio. Conseguiram. Mas os pais estavam ao lado e as seguravam com cordas... Elas puderam porque os pais podiam... Não foi tudo, mas também não foi nada. A santidade, que pode estar nos extremos, também pode estar no meio. Depende de aceitarmos nossos limites! Já comi tortas deliciosas feitas com as partes boas de maçãs bichadas...

Pe. Zezinho scj